10 junho, 2010

MINHA LÍNGUA, TUA SEDE



Se teu olhar me mostra a via de te ter cativo
Não haverá vertente tua que eu não percorra
Como num rito, vou traçando o vício até o umbigo
E volto ao início buscando mais entre as tuas coxas

E verifico, me fico, me fixo nessa mansa lide
Vou buscar na entranha o sumo teu que assanha
O que me me molha, me tange e sempre me aflige
O que me incha em riste, que me atrita e me ganha

E esse teu sorriso, tão preciso e de barganha
Me prende no liso, pelo pingo vertido da ponta
No bamboleio da parte tua que me arreganha
No macio da carne, que me invade e me afronta

Marejam meus olhos, chora tua bica e tudo vaza
Assim te tenho, assim te ordenho e fico louca...
No batizado das águas, eu mergulho e crio asas
Ao recolher teu filho num fio escorrido da boca

* * *

2 comentários:

  1. É forte a sua poesia, Ana. Pena que você tenha parado de postar.

    O fecho deste poema é um primor:

    "No batizado das águas, eu mergulho e crio asas
    Ao recolher teu filho num fio escorrido da boca"

    Um abraço

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  2. Olá, Tuca
    Você sabe, você também escreve, que temos que ter pra quem mostrar nossas criações ou elas esmorecem. Aqui no blog vem pouquos leitores, por isso enfraqueci. E também porque não tenho tempo pra dedicar a política de boa vizinhança, fazer as visitinhas básicas. Ademais, ano passado perdi um amigo que era meu maior estímulo. E como se não bastasse, tive um texto roubado e publicado em livro.
    Então, por tudo, fiquei sem graça. Mas eu continuo, devagarinho. Estou deixando guardados os textos novos, textos inéditos, pra quem sabe o meu primeiro livro. Se você quiser, pode clicar aí ao lado, na plaquinha do Recanto das Letras. Tem bastante coisas minhas aí dentro, meus momentos.
    Fiquei feliz por alguém que eu não conhecia, você, vir me chamar pra ler mais de mim.
    Muito obrigada
    Abraços

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